Rebecca Morelle
Da BBC News
Seres humanos modernos tiveram cruzamentos com neandertais muito antes do que se pensava, afirmam pesquisadores. Traços de DNA humano encontrados em um genoma neandertal sugerem que começamos a nos misturar com nossos extintos parentes há 100 mil anos.
Imaginava-se até então que as duas espécies haviam se encontrado pela primeira vez quando humanos modernos deixaram a África, há cerca de 60 mil anos. O estudo foi publicado na revista científica Nature.
Para Sergi Castellano, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, a descoberta é "significativa para o entendimento da história de humanos modernos e neandertais".
Resquícios de uma neandertal fêmea, encontrados em uma caverna remota nas montanhas Altai, na Sibéria (Rússia), foram a fonte das revelações sobre a vida sexual de nossos ancestrais.
Uma análise genética revelou presença de porções de DNA humano dentro do genoma da neandertal, indicando um cruzamento de espécies há 100 mil anos.
Pesquisas anteriores haviam sugerido que esses cruzamentos com nossos parentes corpulentos e de sobrancelhas proeminentes tinham começado quando humanos deixaram a África e começaram a se espalhar pelo mundo. Ao deixar o continente, eles encontraram e tiveram cruzamentos com os neandertais, que viveram ao longo da Europa e da Ásia.
Genes neandertais desses encontros são encontrados em humanos hoje, e estudos recentes indicam que essas porções de DNA exercem papel em tudo, de nosso sistema imunológico à propensão a doenças. Mas esse achado recente de um fluxo de genes na direção oposta, de humanos a neandertais, sugere que os cruzamentos estavam acontecendo milhares de anos antes.
O impacto desses genes sobre os neandertais ainda não é claro. A descoberta, no entanto, amplia o entendimento sobre a história da migração humana.
Se os primeiros humanos estavam mantendo relações sexuais com neandertais há 100 mil anos, isso deve ter ocorrido fora da África, porque não há vestígios dessa espécie extinta no continente africano. E isso significa que esses humanos deixaram a África antes da grande dispersão que ocorreu ao menos 40 mil anos depois.
A conclusão reforça a ideia de que houve incursões humanas precoces para fora da África. Outra evidência recente inclui a descoberta de fósseis de humanos em Skhul e Qafzehm em Israel, e pesquisas indicam que pessoas viviam na China há 80 mil anos.
"Creio que qualquer lugar no Sudeste Asiático pode ter sido ter sido o lugar desse cruzamento, já que não sabemos ao certo como neandertais e primeiros humanos modernos poderiam ter estado nas regiões entre a Arábia e a China nesta época", disse Chris Stringer, chefe de pesquisa em origem humana no Museu de História Natural de Londres.
"No momento simplesmente não sabemos como esses cruzamentos ocorreram. As possibilidades vão de trocas de parceiros relativamente pacíficas a um grupo atacando o outro e roubando fêmeas (o que ocorre com chimpanzés e humanos caçadores-coletores) e adoção de bebês órfãos."
Para Stringer, estudos genéticos eventualmente poderão mostrar "se a transferência de DNA na outra direção foi sobretudo por meio de machos, fêmeas ou na mesma proporção, mas será preciso muito mais informação antes disso."
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