quarta-feira, 18 de maio de 2016

Não escreva para ela

    (Foto: Getty Images)

“Nada deixa uma vagina mais seca do que um parágrafo” – frase tirada de um episódio do seriado Love (Netflix).
Tem uma coisa que você, eu e a torcida do Flamengo já fizemos: escrever para quem se está a fim.
Em um País de raríssimos leitores, de gente que tem urticária por papel e caneta, convencionou-se que escrever para cortejar alguém é mais do que aceitável – é desejável.
Na pior versão, escrever é “fofo”.
E quando olham para qualquer coisa que escrevi e exclamam “que fofo”, tenho ganas de perder, definitivamente, a minha já pobre e limitada capacidade de concatenar letras e formar frases (mesmo quando a intenção do que foi escrito era ser razoavelmente fofo).  
Então, entre fofuras, rodeios e frases mal amarradas, chega o dia em que a gente acaba escrevendo. Sim, a gente acaba decidindo que colocar o que se sente no papel (ou no e-mail) vai ser a única maneira de nos salvar da solidão ou do tédio.
Pior pra quem acha que sabe escrever. Muito pior. Inevitável que fique essa coisa meio amorfa entre a confissão amorosa e uma tentativa frustrada de fazer literatura. É sempre uma derrota, acreditem. Melhor pra quem é mais seco e vai direto ao ponto – ou aqueles que se valem daquilo que já foi escrito por alguém mais talentoso.
Além disso, entre escrever e entregar (ou enviar) existe um oceano de diferença. Ouso dizer do que entregar dói mais – já que esse tipo de escrita costuma sair de uma jorrada só.  Ser lido pela pessoa certa é tão difícil quanto publicar um livro pela Cia. das Letras (e se o seu nome não for Kéfera vai ser difícil publicar por qualquer uma).
Mas se você percorre todo o circuito do autor apaixonado, eis o que vai sobrar: nada.
Nada, brother.  
Vou falar por experiência própria. Ao tomar um café com a inspiração de um texto, quedei-me em depressão. Não por ela. Não. Ela linda. Lá. Todo ouvidos e paciência – correndo todos os riscos de quem vai encontrar quem mal se conhece. Mas por mim. Pela ficha que caiu, pelo esforço concentrado de colocar no texto um cara que não existia, que não era eu.
Eu nunca cumpriria aquelas promessas, eu nunca seria o cara que iria cultivar jardins e fazer da vida dela um domingo de sol com piquenique. Eu nunca seria aquele personagem de comédia romântica que eu estava tentando vender (esperto, desonesto).
Eu seria esse aqui, esse que acorda de saco cheio, que carregas as insatisfações de uma rotina chata, que escreve por dinheiro (embora o dinheiro nunca venha) e mais nada.
Se ela levasse aquilo adiante (ou eu tivesse tido coragem de tentar), logo seria desmascarado. Não que eu não quisesse. Ao contrário, eu queria – mas tive escrúpulos.
Um relacionamento seria como escrever um romance sem nenhuma ideia de onde se quer chegar com ele.  Um romance sem nenhum plano.
Seria um improviso – que pode no máximo segurar um blog sem compromisso.
Um blog é no máximo um beijo. Em dias inspirados, uma transa.
Não deu. Não representei aquele personagem que derramei no papel.
No fundo, todas acabam percebendo.
Então, mão me peça pra escrever pra você.      
Nunca é de verdade. 
ED NOTÍCIAS BLOG/FONTE;YAHOO

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