O céu estava carregado. Era um escuro diferente, mais denso. Imaginou-se uma tempestade devastadora. Não veio. O que começou a cair do céu foi algo bem diferente, inusitado, impossível. O serviço de previsão de tempo jamais poderia prever que naquele dia fatídico choveria capim.
Cogitou-se o fim do mundo. Claro, fazendo as contas direitinho sempre se chega numa data apocalíptica. Mas, embora o capim caísse com regularidade, não parecia configurar-se o tal fim dos tempos.
Aos poucos, o capim foi cobrindo, gentilmente, ruas, avenidas, carros e casas. Alguns abriram seus guarda-chuvas, mas logo notaram algo de ridículo no gesto.
Eis que um brasileiro, trajado com a camisa da seleção brasileira, teve a curiosidade de levar um punhado de capim à boca.
Hum, gostoso.
O homem, o brasileirinho convicto de sua excepcionalidade histórica, adorou o gosto, a textura e um certo azedinho daquele capim. Faminto, ajoelhou-se no meio da Avenida Paulista e começou, com voracidade, a comer o capim que caia do céu.
À princípio, outros brasileiros olhavam aquele sujeito com cara de reprovação: “que coisa mais grosseira, comer capim assim na frente de todo mundo”!
Mas um curioso no meio da multidão não se aguenta, ajoelha-se na via e come o seu primeiro bocado de capim.
Hum, que delícia.
O banquete chamou atenção de outros brasileirinhos. Aos poucos, naquilo que chamamos de “efeito dominó”, outros cidadãos de bem ajoelharam nas ruas e começaram a degustar o capim que jazia no chão.
Em poucos minutos eram centenas de pessoas comendo capim.
Com a transmissão do ato pelas maiores redes de televisão, o gesto foi imitado por milhares de pessoas do norte ao sul do País.
Éramos uma nação de joelhos – e comendo capim.
Hum, hum, hum.
A cena era bonita, estranha, intensa, melancólica e triste.
O capim era mesmo delicioso.
Continuou chovendo por muito tempo.
Nunca mais nos levantamos.
- Hey, tem um fiapo de capim preso no seu dente da frente!
ED NOTÍCIAS BLOG/FONTE;YAHOO
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