(Getty Images)
Na consulta ginecológica, a médica pergunta se você tem vida sexualmente ativa e se costuma usar camisinha. Sim, você tem. Não, você não usa. “Odeio aquele plástico” e “é chato parar o sexo pra botar” são as suas justificativas. Agora imagine que, em vez do blablabla polido sobre gravidez não-planejada e doenças sexualmente transmissíveis, a doutora de jaleco te respondesse o seguinte…
“Amor, não tem nada de plástico. Realmente a textura é um pouco diferente do pênis sem nada, PRA MULHER DEVIDAMENTE LUBRIFICADA (coisa que anda rara nos dias de hoje). Eu tenho certeza que se fizessem um experimento com mulheres vendadas, bem lubrificadas, com camisinha com tamanho adequado pro pênis e bem colocada, a maioria ia ter dificuldade de saber se ele estava com ou sem proteção. Agora, é claro, se o apressadinho pular a preliminar e logo meter a camisinha e em seguida já meter em você com medo de broxar, o pau dele vai mesmo cantar pneu na sua vagina. E você transa de roupa mesmo ou primeiro tira a roupa toda e só depois começa a transar? Porque achar de boas tirar o sutiã (tem cada fecho que pelamor) eachar complicado abrir um pacotinho e desenrolar uma camisinha só tem uma explicação: falta de hábito. E hábito, gata, se cria”.
Ou se você contasse que perdeu a virgindade com o namorado sem proteção e, apesar de ele ter dito que não gozou dentro, você sentiu um líquido escorrendo e está com a menstruação atrasada. Daí o conselho fosse assim:
“[…] Então, amiga, ele tá pouco se lascando se você vai acabar grávida, se seu corpo vai mudar, se você vai aguentar os olhares da sociedade, se você vai levar ré nos seus planos. Se ele pagar 250 reais de pensão e postar foto da criança no Face a cada 15 dias, já será considerado um bom pai. Ele também não tá nem aí se vai te passar alguma doença; aliás, da mesma forma que ele não se importa se você tem alguma coisa pra passar pra ele, tenha certeza que ele também não se importou com a outra que comer antes de você, e talvez a outra tenha transado com outros caras como ele antes e é assim que as doenças se espalham por aí. O IMPORTANTE PRA ELE É O QUE O PAU DELE PEDIU, sacou? E se o pau pedir “na pele” ele vai arriscar porque, nessa sociedade machista de merda, ele tem muito pouco a perder. Quem se ferra é você”.
Os trechos acima foram postados na página “Ginecologista Sincera”, com mais de 80 mil seguidores no Facebook. Sob as siglas de JS e TS, duas jovens ginecologistas catarinenses tiram dúvidas sobre sexualidade feminina e aconselham sem pudores desde maio de 2015. O anonimato evita ataques pessoais, além de problemas com colegas de profissão e pacientes. “Não é palanque, não queremos nos promover”, explica JS. “Apenas dizer o que sentimos e democratizar a ginecologia porque muita gente não tem acesso”. Mais que abrir as pernas das mulheres em exames preventivos, essas médicas querem abrir suas cabeças.
Embora tentem fazer isso no dia a dia do consultório, a sinceridade esbarra em alguns limites. Não dá pra ser muito invasiva ou agressiva (leia-se direta demais) com quem está em busca de acolhimento e mostra, nas atitudes e nas perguntas, uma tremenda falta de esclarecimento. Por exemplo: JS atendeu uma mulher de trinta e poucos anos que havia parido seis meses antes. Estava preocupada com um ~nódulo~ na região genital. A médica examinou e concluiu: “Tá tudo bem com você, não encontrei nada”. Diante da insistência, pediu que a mulher apontasse aonde sentia o tal nódulo. E ela tocou o clitóris. “Minha vontade era me jogar pela janela”, conta JS. “Vou botar uma tela de segurança porque é complicado, viu? ”.
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