domingo, 19 de novembro de 2017

A ciência do choro: entenda como e por que você não consegue segurar as lágrimas

por Vitor Valencio –  @vitorvalencio
Quem é que nunca chorou ao ouvir uma música, no final de um filme ou ao terminar um livro? Para dizer a verdade, tem alguns momentos que nem a gente sabe o motivo de estar chorando, não é mesmo? Seja por lamento, saudade, êxtase, alegria ou tristeza, o fato é que não são poucas as vezes em que não conseguimos segurar as lágrimas. As razões podem ser sociais, de sobrevivência ou até filosóficas. Será que a ciência tem uma explicação definitiva para o choro? 
    reprodução 

Além da porta / Existe paz, tenho certeza / E eu sei / Que não haverá mais / Lágrimas no paraíso. Esses são os versos de uma das estrofes da música ‘Tears In Heaven’, do cantor, compositor e guitarrista britânico Eric Clapton. Essa canção se tornou símbolo de lamento para muita gente nos anos 90. Como em qualquer obra bem construída, muito disso se deve à letra, melodia. Mas também pode estar ligada a fatores externos, como a interpretação do músico, que compôs a canção após a morte do filho Conor, aos quatro aos de idade.
O fato é que quase nunca sabemos ou estamos preparados para o momento em que as lágrimas se manifestam. Mas o que acontece em nosso corpo quando recebemos uma notícia triste ou boa? “Basicamente são várias respostas: Resposta do nosso sistema nervoso central, do cérebro em particular. E as respostas que a gente vai ver na periferia (do corpo). Então é a reação, que vai começar a surgir no batimento cardíaco, na respiração, na sudorese, no diâmetro pupilar, na liberação de lágrimas e no choro”, revela Paulo Sérgio Boggio, professor e Coordenador do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social do Mackenzie, em São Paulo.
Recentemente outra canção se tornou símbolo de despedidas. O clipe da música ‘See You Again’, uma parceria entre o rapper Wiz Khalifa e o cantor e compositor Charlie Puth, se tornou o vídeo mais assistido no Youtube em 2016, justamente por fazer parte da trilha sonora do filme Velozes e Furiosos 7. Tudo porque a música aparece justamente no fim do filme, quando o personagem de Paul Walker se despede da franquia. A morte precoce do ator, meses antes da estreia do filme causou comoção entre os fãs. Muitas vezes tocada em velórios, principalmente nos Estados Unidos, a música rapidamente se tornou um símbolo de luto e saudades daqueles que partiram. Tem gente que chora só de escutar a canção.
Entretanto, nem sempre o choro é sinônimo de tristeza.  Para muitos especialistas, chorar pode ser uma questão de comunicação ou apenas de sobrevivência. “E esse papel de comunicação fica mais evidente no desenvolvimento infantil. Qual é o papel do choro em uma criança muito pequena? Então, você tem o emissor que é a criança e o receptor, que é a mãe, que tem que ler, explica o professor Paulo Sérgio.
Ele completa: “O choro da criança nesse período tem uma funcionalidade muito específica. Sinalizar dor, desconforto, fome ou qualquer coisa parecida. Isso é fruto de um processo evolutivo. Temos esse modelo na nossa espécie e tem outras espécies que também têm uma sinalização parecida. Essa sinalização vai servir para quem está ouvindo. Se for um bom receptor, vai reagir da maneira certa”, conclui.
O corpo humano funciona tanto a partir de funções emocionais como fisiológicas, que são as reações físicas aos estímulos. E é claro, que elas já foram estudadas à exaustão pela ciência. “As lágrimas tem função de lubrificar a superfície da córnea para mantê-las úmidas e assim permitir a transparência necessária para a visão. Em sua constituição também possuem nutrientes e anticorpos que atuam como defesa para a superfície corneana”, esclarece a Doutora Rita Obeid, oftalmologista no Hospital CEMA e especialista em vias lacrimais.
Sobre a função do choro, o professor Paulo Sérgio Boggio levanta um questionamento pertinente: “Se eu te perguntar, se você chora e fica triste ou se você fica triste e chora? Qual hipótese estaria certa?” Essa ideia já mostra muito como funcionam as emoções. A segunda, com certeza, é a mais problemática. A primeira é um modelo seguido desde William James (O que é emoção?). Ele que trouxe essa ideia do que é tristeza e o que é alegria. Se eu tirar todo o aspecto fisiológico da tristeza e da alegria, sobra o que? Não sobra nada! Apenas o aspecto cognitivo”, reflete o especialista.
Alegria x Tristeza
Para alguns especialistas, o fator mais importante para entender as emoções humanas consiste em tentar definir onde fica a linha tão tênue que separa a alegria da tristeza. William James foi um dos expoentes da psicologia funcional e da parapsicologia. Entre 1861 e 1910 o médico, psicólogo e filósofo americano. Suas obras sobre a, então jovem, ciência da psicologia o tornariam conhecido como o pai da psicologia americana. Um de seus legados mais importantes é o estudo da emoção.
Mas qual a função da emoção em nossas vidas? “Imagina se eu te conto uma notícia trágica e você não tem nenhuma reação fisiológica no teu corpo? Ou seja, seu batimento cardíaco não aumenta, a sudorese não muda, a respiração não muda, a pupila não dilata, sua vontade de chorar não se manifesta…. Você ouviu, mas seu corpo não está sentindo a notícia. Você pode até entender que precisa dizer que está triste, por ser uma notícia trágica. Mas na verdade, não está sentindo tristeza”, problematiza o especialista em Neurociência Cognitiva e Social do Mackenzie.
Ele continua: “É uma coisa meio circular, lógica filosófica mesmo. Os termos tristeza e alegria são apenas termos. Se entendermos que são apenas isso, fica mais fácil entender o que são essas outras coisas”, conclui.
 Chorar faz bem?
Para a especialista em vias lacrimais, do Hospital CEMA “O Excesso de lágrimas pode ocorrer por aumento na produção frequente, quando há contato com um corpo estranho funcionando ou fator irritativo, e ainda quando há deficiência na constituição da lágrima, provocando a evaporação mais rápida e um aumento rebote na produção para uma compensação da mesma”, racionaliza a Doutora Rita Obeid.
Segunda a oftalmologista, as lágrimas também podem se acumular quando há dificuldade para o escoamento. “Isto ocorre quando há obstrução no sistema de drenagem da via lagrimal. Consequentemente isto pode ocasionar infecções frequentes como as conjuntivites e infeções no saco lacrimal com formação até mesmo abscessos”, finaliza.
Entretanto, algumas emoções parecem ter consequências quase físicas em nossos corpos. Alegrias e tristezas, que parecem a oportunidade perfeita para que a anatomia se funda à mente, condensando o choro como uma espécie de descarga emocional.
Provavelmente você já se sentiu assim. Mas será que chorar realmente é uma válvula de escape? “Muitas vezes, quando temos uma reação emocional muito intensa, parece que chorar traz um alivio. A questão é que, às vezes, não dá. Uma coisa é ficar triste, chorar e voltar para o estado basal (normal). Outra coisa é ter alguém em um estado mais crônico, de melancolia, com choro constante. E que vai juntar a fisiologia com a interpretação do ambiente. Aí a tristeza não é por algo que aconteceu agora, pode ser um estado depressivo ou algo assim. Se você tem uma interpretação de que tudo está dando errado, na verdade está reforçando um outro circuito perigoso. Então não é assim: Chore, que faz bem!”, alerta o professor Paulo Sérgio Boggio.
“Temos de entender que as emoções podem ser agudas. Ou seja, recebi uma notícia e fiquei triste ou alegre, depois voltei ao basal. Isso é uma coisa que acontece no dia-a-dia. Outra coisa é ter um estado em que eu fique triste por muito tempo. Aí você começa a entrar nas patologias. Melancolia, depressão ou sempre em estado de alerta, ansioso… Aí é quando a emoção começa a ter um impacto negativo”, explica o Coordenador do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social do Mackenzie.
Ele conclui: “Tem que pensar sempre do ponto de vista evolutivo. Essas emoções foram sobrevivendo por alguma razão. O choro, em particular, tem a ver com esse cuidado na primeira infância. O outro é sinalizar que a pessoa precisa de ajuda. Não seria simplesmente uma válvula de escape. Chorar apenas para aliviar…. Até porque algumas vezes não alivia. O papel mais central é o de comunicação mesmo”, raciocina o especialista.
No fim das contas, quando o coração aperta, chorar sempre será uma alternativa saudável. No entanto, mais importante que botar a emoção para fora é procurar se conhecer e saber as razões pela qual ela entrou na sua mente.

ED NOTÍCIAS BLOG\FONTE;YAHOO 

Nenhum comentário:

Postar um comentário