domingo, 19 de novembro de 2017

Brasileiros estudam nova enzima que pode ajudar na cura do câncer infantil

     Enzima retirada de bactéria é a única autorizada no país (Foto: Marcos Santos/USP)

Um grupo de pesquisadores da USP e da Unesp investigam uma nova enzima que é capaz de matar as células cancerígenas da Leucemia Linfoide Aguda (LLA), responsáveis por cânceres em crianças e adolescentes. O novo biofármaco foi criado a partir da enzima encontrada na levedura e está passando por testes. Se aprovado, poderá ser uma alternativa viável, mais barata e eficiente para o tratamento do câncer infantil.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a LLA é a neoplasia infanto-juvenil mais comum. As células leucêmicas não podem fazer nenhum trabalho das células sanguíneas normais, o número dessas células cresce rapidamente e a doença agrava-se num curto intervalo de tempo.  De acordo com dados do INCA, entre 2016 e 2017 serão diagnosticados cerca 12.600 novos casos de cânceres pediátricos e juvenis no Brasil, sendo aproximadamente 25% destes representados pela LLA.

O bioquímico Marcos Antônio de Oliveira, do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista Campus do Litoral Paulista (Unesp-LP), que fica em São Vicente, diz que um dos medicamentos utilizados no tratamento da LLA é composto pela enzima asparaginase, extraída da bactéria Escherichia coli. Apesar da possibilidade de cura ser de 80% na utilização desse medicamento, até 25% dos pacientes desenvolvem reações imunológicas e não podem utilizar o fármaco.

Apesar de existirem outros dois medicamentos alterados, que são utilizadas para “enganar” o sistema imune e permitir a continuidade do tratamento, eles são protegidos por patentes e são muito caros, além de não serem aprovados pela Anvisa.

Como o fármaco mais utilizado é importado, houve uma crise no abastecimento em 2013, que levou a pesquisas sobre novos medicamentos baseados na biodiversidade. Oliveira, juntamente com a geneticista Gisele Monteiro (USP), os pós-graduandos Leonardo Schultz e Iris Costa, sob a coordenação do farmacêutico Adalberto Pessoa Jr. (USP), começaram a estudar organismos que fossem fontes de asparaginases.

Eles isolaram fungos oriundos de diversos ambientes brasileiros, como cerrado e caatinga, além de ambiente marinho e terrestre da Antártica, e avaliaram bancos de dados mundiais de genes. Assim, identificaram a Saccharomyces cerevisiae, uma nova enzima da levedura do pão.
     À esquerda, a levedura. À direita, modelo da estrutura de Asparaginase (Foto: Divulgação)                 
           “Encontramos um gene similar da bactéria Escherichia coli. Conseguimos clonar esse gene da levedura e obter essa enzima, fazer a produção dela no laboratório. A levedura está presente na natureza em quase todos os lugares, é muito utilizada para fazer a fermentação. Descobrimos, em um organismo super conhecido, uma coisa que nunca foi estudada”, explica o bioquímico.

Depois da descoberta, os pesquisadores iniciaram as fases de experimentações. A enzima foi testada em células leucêmicas e em células normais. “Quando a gente colocou em contato com as células leucêmicas, elas mataram com eficiência de 80% e, para as células normais, ela não tem toxicidade, ou seja, não mata a célula normal”, explica.
Segundo Oliveira, serão feitos mais testes com células e, depois, testes com ratos e, por fim, com humanos. A pesquisa “Produção de L-asparaginase extracelular: da bioprospecção à engenharia de um biofármaco antileucêmico”, foi publicada na edição de novembro da revista inglesa Scientific Reports do Grupo Nature.

Ele e os pesquisadores também tem outros estudos encaminhados na área. Oliveira acredita, porém, que essa enzima tem grandes chances de trazer benefícios para os pacientes com câncer. “Na minha opinião, estamos em um caminho muito promissor. A taxa que ela (enzina) mostra de morte das células leucêmicas é muito alta e a taxa que mata as células normais é praticamente nula”, diz.

Para ele, é possível encontrar na biodiversidade a solução para muitas doenças buscando a invenção de novos medicamentos. “Para a gente, que trabalha em universidade, o que interessa é produzir algo barato para a população. Principalmente os medicamentos de câncer, que são muito caros. Temos que aproveitar a biodiversidade no Brasil, que é uma das maiores riquezas que a gente tem", finaliza. 
ED NOTÍCIAS BLOG\FONTE:G1

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