quarta-feira, 6 de abril de 2016

Como se separar de alguém que você não ama mais?

            (Foto: Thinkstock)

Ela me deixou um recado no celular. Achei aquilo tão fora de propósito. Quem ainda deixa recados de voz na caixa postal do celular? Ainda mais aquele, um recado dando conta que o nosso amor tinha acabado. Simples assim ­– como quem avisa que a pilha do controle remoto acabou e que já é preciso comprar outra.
Eu esperava mais consideração. Não, não. Consideração é uma palavra ruim. Eu só vou esperar consideração quando bater na casa dos 60 anos. O que eu queria era algo mais cerimonioso.
Queria um fim digno de ser chamado de fim. Uma briga, choro, uns gritos e, quem sabe, uns pratos atirados contra a parede da minha cozinha.
Pois sim, uma separação tem que ter seus rituais…
Curioso que aquele recado não era pra mim. Não tenho namorada. Portanto, no nervoso, a moça deve ter trocado algum número e deixado a mensagem para o sujeito errado. Justo eu. Ou seja, a garota se separou de alguém que ela nunca viu.
Penso que o melhor a fazer é ligar no número que aparece aqui e desfazer esse mal-entendido. Não sei como começar essa conversa, talvez com “oi, eu sou o cara que você se despediu por telefone e…”  
Tudo vai soar estranho. Mas é preciso ser feito.
Primeiro toque. Segundo toque.
Ela deve estar aliviada, achando que tirou um peso das costas. Daí eu ligo e aviso: “Você vai ter que fazer tudo isso outra vez. Pegar a porra do celular, ligar para o número certo, respirar fundo e dizer o que você me disse…”
Posso também aconselhá-la. Sugerir que ela faça isso de um jeito diferente, que fale o que tem pra ser dito olhando nos olhos do cara. Vou tentar de novo.
Primeiro toque. Segundo toque. Terceiro…
“Alô”.
“Oi”.
“Eu sabia que você ia me ligar…”
“Então…”
“Se você quiser a gente pode marcar um café…”
Aceitei.
Louco, né? Marquei um encontro. Na verdade, marquei uma separação que não era pra mim. Quer dizer, não achei educado falar do mal-entendido por telefone. Então, por consideração (palavra ruim) decidi encontrá-la.
Não sei como vou reconhecê-la no café. Mas acho que quem sai de casa para terminar um relacionamento sempre tem uma cara específica. Alguma coisa entre o transtorno e o alívio, o enfado e a alegria.
Sentei-me em uma mesinha lateral. Lá, tenho esperanças de reconhecer quem eu preciso encontrar.
Uns 50 minutos depois, distraído, sinto uma mão no meu ombro: “Alex…”
“Hey,  você…”
“Não lembra de mim, né? Sou a Silvia, 6ª série C, colégio Roberto Bolaño, acampamento de final de ano, 1987…”
“Silvia…”
“Ainda bem que você veio…”
Silvia foi minha namoradinha por 4 dias – mais precisamente em 1987, durante um acampamento de final de ano. Lembro que, sei lá, eu tinha 13 anos, a gente trocou uns beijos e prometeu coisas… Na verdade, eu era virgem e andava ansioso por ter minha primeira transa. No desespero, devo ter prometido até casamento.
Acontece que a vigilância no acampamento era grande e nada aconteceu. Quando o feriado acabou, a coisa esfriou. A gente chegou a trocar uns bilhetes e… Bem, meus pais foram para o Rio de Janeiro… Me mudei, troquei de colégio e nunca mais soube da Silvia.
Agora ela está aqui na minha frente. Está aqui para se separar de alguém com quem nunca teve nada.
Ela está chorando.
Eu quero abraça-la.
Talvez eu tenha estragado a adolescência ou mesmo a vida dessa menina.
Agora, parece, ela vai estragar a minha.      

ED NOTÍCIAS BLOG/FONTE;YAHOO 


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