terça-feira, 19 de abril de 2016

Os homens de minha vida também se sentem inseguros em relação ao corpo - de uma maneira assustadora

Eu tenho vivido um caso de amor e ódio com meu corpo desde que me entendo por gente. Este artigo não é bem sobre isso, mas deixe-me apenas adiantar-lhe alguns detalhes para que você entenda melhor do que estou falando. 
               Foto: Getty Images.

Eu tive um crescimento acelerado e anterior ao de todos os meus colegas do Ensino Fundamental, e nas fotos era sempre a mais alta da turma. Sentia que minha altura nunca passava despercebida, era como um dedo machucado, sempre saltando à vista, e eu reagi desenvolvendo um ódio profundo por meu corpo. Eu queria castigá-lo por ser diferente. Estava obcecada com a ideia de reduzir o meu tamanho, e infelizmente, havia (e há) uma indústria inteira dedicada a essa obsessão.
Aprendi muito sobre dietas observando minha mãe e lendo seus livros quando ela não estava por perto. Devido a isso, aos oito anos, tudo o que eu comia no jantar era frutas e queijo Cottage. Eu mantinha um diário e registrava obsessivamente tudo o que comia. Passava meus verões “tentando reduzir meu corpo” e tentava conciliar isso com o que outras crianças costumavam comer durante o ano letivo. Comia apenas a metade de um pote de iogurte, mas isso só me deixava ainda mais faminta, e depois de algumas horas, a fome era tanta, que eu comia a metade de uma lata de batatas Pringles com uma velocidade de um raio, sem pensar duas vezes. Eu fiz os exercícios de todos os gurus dos anos 80, começando com Jane Fonda, depois Richard Simmons, Denise Austin, Susan Powter e qualquer um que usasse collants e desse aulas de ginástica aeróbica freneticamente pela TV. Estudava as revistas como se elas fossem livros. Olhava para as roupas que as garotas usavam na TV e me perguntava como ficariam em mim.
As coisas seguiram assim durante uns vinte anos — eu seguia dietas insanamente rigorosas, via uma imagem distorcida de meu corpo no espelho, comia demais, engordava, me recusava a fazer exercício, sentia desprezo por mim mesma, namorava rapazes que não me davam valor (já que eu mesma não dava) e detestava a cultura que me encorajava a não dar valor a mim mesma, era um círculo vicioso.
Depois de muita terapia, um susto com a saúde, aprender muitas coisas e um pouco de autoconhecimento, comecei a respeitar meu corpo como um valioso instrumento. Faço o meu melhor para me exercitar regularmente, já que meu corpo precisa de exercício, e não para perder peso. Não exijo de meu corpo mais do que o necessário, como se quisesse castigá-lo, ele não é apenas um corpo — ele e eu somos um só. Eu me alimento de maneira saudável porque sei que as comidas saudáveis fazem bem ao meu corpo, mas não sou obsessiva a ponto de me privar de algo que gosto quando vou a um restaurante com meus amigos e eles pedem literalmente uma pirâmide de hamburgers.
Eu costumava ser como eles — pelo menos até uns cinco anos atrás. Foi quando comecei a notar algo diferente em meus amigos homens. Eles estavam pedindo menosBig-Macs e cheesburgers. Estavam bebendo menos e começaram a consultar os treinadores. “Você sabia”, sussurrou um deles para mim em um restaurante tailandês, “que o arroz não é nada bom para você?” Eu olhei para ele fingindo que estava chocada. ‘Sim, infeliz, eu sei disso desde a quarta série.’ E foi assim que teve início a fase mais recente de minha vida: meus amigos tentando saber tudo o que havia acontecido comigo durante décadas, porque, de repente, eles estavam tão obcecados com o aspecto de seus corpos como eu costumava estar antes.
Observar esses homens se tornarem tão focados em seus corpos, serviu para abrir meus olhos. Meus problemas com meu corpo surgiram porque eu percebi, ainda bem jovem, que já não era mais uma garotinha; em vez disso, eu estava me transformando em uma adolescente, e vislumbrar toda essa carga que surge com a adolescência foi demais para mim. Mas eu não era a única que passava por isso. Embora eu me sentisse sozinha, quando falava com outras mulheres, mesmo aquelas com quem eu havia crescido, percebia que elas também se sentiam fora de lugar. Todas nós nos sentíamos mal, de alguma maneira. Estabeleci uma conexão com essas mulheres devido aos horripilantes rituais da infância, aos quais nos submetemos, na esperança de ter uma aparência “perfeita”.
Os meus amigos atuais passaram a maior parte se sua infância sentindo-se bem consigo mesmos (embora eu reconheça que muitos homens também tiveram problemas com seu corpo quando eram crianças). Mas agora que esses rapazes já estão saindo da casa dos 20 e entrando nos 30, a preocupação com o corpo os amedronta como um fantasma. Quando eu pergunto o que aconteceu, eles dizem alguma coisa sobre sentir que o tempo está fazendo estragos em sua virilidade. Eles estão assustados com a ideia de que estão deixando de ser homens, para converter-se em homens mais velhos — temem ser encarados como seres assexuados e peças de um mobiliário, pelo resto do mundo. Eles dizem que estão começando a vincular seriamente sua aparência com seu valor como pessoa. Isso é bastante perturbador — para eles e para mim.
Esses homens seguem a marcha, eles fazem tratamentos de beleza, buscam novos estilos para o cabelo (sim, eu vivo em Los Angeles), e durante o lanche, eles me confessam que sentem que não são bons o suficiente. Eles usam muitas palavras que eu costumava usar em meu diário e com minhas amigas, algumas até aparecem aqui neste artigo. Eles se sentem impotentes e zangados por se sentirem impotentes. Ficam chateados porque não podem comer panquecas. Só me resta ser solidária. Isso me ajuda a entender que a frase “eu não sou bom/boa o suficiente” atinge todos nós — talvez em diferentes momentos e direções. Mas nenhum de nós é imune a ela. Então eu falo com meus amigos sobre como é bom aceitar a si mesmos como eles são e que devem apreciar o que seus corpos podem fazer, em vez de focar-se nas coisas que seus corpos já não fazem tão bem. Nós somos solidários e trocamos ideias sobre lanches que não sejam muito ruins. Quando eu saio com minhas amigas, a conversa é bem diferente, falamos sobre filmes, ideias para novos negócios e relacionamentos — porque nós já superamos essas conversas banais sobre a imagem corporal.
As batalhas travadas por meus amigos fizeram muito por mim, elas me ajudaram a perceber que tudo isso é como uma roda-gigante de necessidades que nunca cessam. Nós estamos juntos nisso. Existem um milhão de coisas que nos deixam abatidos: expectativas culturais, o processo de envelhecimento, etc. É nosso dever, como indivíduos, encontrar a maneira de lutar contra essas coisas — e gostar de nós mesmos, apesar de todas as adversidades.
Na semana passada, notei que um de meus amigos observava um grupo de rapazes que faziam skate perto de um café onde tomávamos um lanche. Os rapazes eram jovens, despreocupados, desbocados, e belos em toda sua insolente inconsequência. Eles levantavam suas camisetas para enxugar o suor de seus rostos, exibindo seus abdomens chapados. Meu amigo olhava para eles com tristeza. Depois, ele ficou cabisbaixo e empurrou o prato com o resto de seu lanche, para o lado. Dei um tapinha nas suas costas para consolá-lo. Eu sabia exatamente o que ele estava sentindo.
É o seu corpo. É o seu verão. Desfrute os dois.
Refinery29Por: Emily V. Gordon 
ED NOTÍCIAS BLOG/FONTE;YAHOO 

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