quarta-feira, 11 de maio de 2016

'Chemsex': a prática sexual que coloca a saúde em risco

Uma combinação letal de drogas e sexo ‘sem parar’ que pode acabar com você. 
    Unir as experiências sexuais e as drogas coloca em risco a sua vida e a dos demais. (Foto: Getty Images)

O fenômeno ‘chemsex’ (do inglês 'chemical sex’, ou sexo químico) é uma forma específica do uso “recreativo” de drogas que consiste na utilização intencional de certas substâncias para ter relações sexuais durante um longo período de tempo.
Entre as drogas mais usadas no 'chemsex’ estão o GHB (gama-hidroxibutirato), a mefedrona (a mais viciante) e a metanfetamina, que também podem ser consumidas com cocaína, speedketaminaectasy ou MDMA. Quando as drogas são injetadas, o termo utilizado é 'slamsex’.
A combinação não é nova, e ainda que muitos tenham esta percepção, não se trata de um fenômeno exclusivo do universo homossexual. Trata-se de algo que está na moda em vários países europeus, com uma tendência de aumento que preocupa os médicos já que, além da dependência, também pode levar a um aumento do contágio do vírus do HIV.
As grandes capitais europeias são as que apresentam um maior índice de ocorrência desta prática. Em Londres, o fenômeno já é um problema de saúde pública e há clínicas que tratam até 100 casos por mês de pessoas com transtornos derivados do consumo de drogas vinculado ao 'chemsex’.
Na Espanha, os números ainda não são claros, mas há cidades como Madri e Barcelona em que foram registrados casos de toxicidade.  Algumas ONGs estão atuando como interlocutores dos afetados, e ajudando a divulgar o problema para que os profissionais de saúde compreendam a dimensão do que está acontecendo.
Estas condutas sexuais de risco também chamaram a atenção dos epidemiologistas, pois como explica Jordi Casabona, diretor do Centro de Estudos Epidemiológicos sobre o HIV/AIDS da Catalunha, Espanha, “nestas festas onde há o consumo exagerado de drogas, pode-se perder a percepção de risco.”
Durante as ‘festas sexuais’ são consumidas substâncias que causam uma grande euforia e desinibição, com foco no sexo, que podem levar a longas sessões sexuais com duração de horas ou até dias. 
De fato, esta prática - cujo objetivo é ter relações sexuais mais prazerosas e duradouras - pode ter importantes repercussões para a saúde, causar o vício, comprometer a saúde mental e contribuir para a transmissão do HIV e de outras doenças sexualmente transmissíveis.
De acordo com a ABC, os usuários descrevem efeitos de euforia, aumento da energia, estado de alerta, urgência por falar, melhora da função mental, aumento da percepção da música, diminuição de sentimentos hostis e aumento do desejo sexual.
No entanto, a médio e longo prazo este tipo de consumo pode causar efeitos devastadores como dores de cabeça, depressão, ansiedade, sensação de enjoo, fraqueza muscular, olhos vermelhos, problemas de vasoconstrição, vermelhidão na pele e nas articulações, dor abdominal e nos rins, ataques de pânico, depressão e psicose, disfunções cardiovasculares e vício. 
Muitos jovens adotam condutas sexualmente perigosas - como combinar drogas e sexo sem proteção - para se desinibirem e se sentirem aceitos. (Foto: Getty Images) 
Para Maria José Fuster, diretora da Seisida, “o estudo 'Uso de drogas recreativas, outros medicamentos e tratamento antirretroviral em pacientes com HIV: interações e impacto na aderência’ permitirá ter uma visão mais clara da situação real deste problema na Espanha.”
Este estudo tem como objetivo conhecer a prevalência de possíveis interações derivadas do uso de drogas recreativas e outros medicamentos junto com o tratamento antirretroviral dos pacientes com HIV, além de analisar quais condutas adotar para evitar ou paliar estas possíveis interações e compreender qual impacto estas condutas têm na sua aderência ao tratamento e na sua saúde.
De acordo com uma pesquisa realizada com 387 homens que realizam 'chemsex’ ou 'slamsex’ e têm relações sexuais com homens HIV positivo sexualmente ativos, 50,6% deles consumiram drogas de uso recreativo nos últimos 3 meses: 21% consumiram 5 ou mais simultaneamente, e 47% consumiram 3 ou mais simultaneamente. 
Manter relações sexuais usando mefedrona e flakka, consideradas novas drogas com efeitos estimulantes, é uma “conduta irresponsável e letal” segundo os especialistas. (Foto: Getty Images) 
Além disso, estas práticas também podem interferir no tratamento antirretroviral, já que os principais riscos do consumo de drogas são a baixa aderência ao tratamento, o desenvolvimento de resistências, o risco de interações medicamentosas e o aumento da transmissibilidade. Por exemplo, 35% dos pacientes afirmam “pular” doses intencionalmente, quando sabem que vão consumir drogas.
O HIV não é o único risco. Outras infecções de transmissão sexual também podem ser contraídas, como a sífilis e a gonorreia, cujo número de casos quadriplicou e triplicou, respectivamente, em 10 anos. “As pessoas perderam o medo e, como são atraídas pelo risco, surgiu o 'chemsex’, conta ao jornal El País Josep Mallolas, do serviço de doenças infecciosas da Clínica de Barcelona, Espanha.
Foi demonstrado que o consumo de qualquer tipo de droga faz com que se perca a percepção do perigo, e por isso há uma queda no índice de uso do preservativo.
"Normalmente são pessoas que saem muito ou vivem a noite de forma muito intensa. Há praticantes de todas as idades, mas poderíamos falar principalmente de homens entre 20 e 45 anos,” explicou ao La Vanguardia Fernando Caudevila, porta-voz do Energy Control, um projeto de redução de riscos da ONG ABD.
Todas as organizações que trabalham neste âmbito da AIDS e das doenças venéreas advertem que fenômenos sociais como o 'chemsex’ podem estar causando uma piora no cenário, já que os jovens “baixaram a guarda” diante do contágio da AIDS.
As ONGs concordam que a prática está crescendo e que “não se pode dar as costas a ela”, como afirma Jorge Garrido, diretor da Apoio Positivo, em entrevista para o site 20 Minutos.
Por outro lado, Fuster insistiu que ainda não há dados consistentes que possam quantificar o fenômeno na Espanha. No entanto, um estudo que será finalizado em setembro está em andamento em 16 hospitais, e seus resultados poderão servir para proporcionar mais detalhes sobre esta prática.
Fica clara a importância do trabalho preventivo em locais de entretenimento e das medidas de redução de risco, as linhas estratégicas apontadas pelos especialistas para enfrentar os problemas do 'chemsex’.
ED NOTÍCIAS BLOG/FONTE;YAHOO 

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